quinta-feira

O sol do diabo

O sol achou Cândido no canto de uma rua. A luz amarela engoliu as paredes, o chão e tudo à sua volta. Percebeu que estava sozinho, sem a mala, e que sua pele ardia demais. Era ele, o sol, e mais nada.
Passou a mão pelo pescoço quando se lembrou da cachaça. Lembrou-se também da faca, e do resto de pele que ainda lhe restara sob o queixo. A enorme cicatriz era tão real quanto a luz impressionante que derreteu o cenário num fundo amarelo.
No susto tentou berrar, pedir ajuda, xingar alguém, mas não sentiu sua voz sair. Ali não havia nem som, nem cheiro. Só o calor insuportável e a sensação de um fôlego na nuca, numa imensidão amarela de nada. Cândido levantou no desespero, e correu.
Tinha alguém ali, diluido na luz que ardida.

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