terça-feira

O demônio sangrento

Ele sugou o pescoço picotado de vários. O sangue salpicava as paredes da lanchonete como confetes em fim de carnaval. Cândido exibia um rosto satisfeito, até se tocar que aquele tipo de festa só era bonita para ele. Olhou para fora da porta, procurando por algum curioso que não entende o que é fome de verdade.

Havia um. Ao virar o pescoço, viu que haviam mais cinco ingratos, de sapatos brilhantes, ternos puídos e cabelinhos arrumadinhos. Eles avistaram a figura do demônio, com a cara vermelha cor de sangue e dentes amarelos. Os mais sensatos já não estavam mais por lá quando o demônio arremessou os pontiagudos na direção da porta.

Cândido roubou o pano de uma mesa, se enrolou nele e enfiou sua cara na pia para lavar o sangue novamente. Observou os restos de comida que afundavam na água enquanto pensava no que viria a seguir. Seria linchado na rua pelos pedestres...Sofreria uma morte horrivel às custas da fome.

Medo de altura, salto, frio na barriga, vento, vento, vento, chão, parede, janela, carro, cabelo. Esse parecia o fim da fuga. Pensou em se matar.

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