quinta-feira

Trágica alegria

Transe. viu uma toalha estendida, uma bela loira e uma balde cheio de cervejas geladas numa praia de águas cristalinas. O sol não atordoava, a fome estava saciada e um belo sorriso surgia aos pouquinhos. Ficou assim por um tempo, até notar que estava tudo estático demais. Ao tocar a face da loira, percebeu que tudo aquilo era um cenário de papelão.

Voltou a si de repente, e estava na mesma rua onde morrera o outro cara. Percebeu que toda a nojeira ensanguentada estava limpa, ou pelo menos parecia ter se deslocado do chão para sua cara e camiseta. A barriga de Cândido parecia um pouco mais gorda. O rosto do cadáver parecia um pouco mais magro.

Estava encarando a parede suja, como se esperasse ajuda divina dos tijolos. Mas por motivos que geraram tanto dinheiro e discrição ao traficante, naquela ruazinha sol e pessoas não apareciam

O morto foi parar num dos sacos de lixo, misturado a tantos outros restos de comida. Por incrível que pareça, a carteira do sujeito não sumiu após a briga que o matou. Cândido pegou também a jaqueta de basquete, e usou a água parada de um pneu pra limpar a sujeira da cara. A aparência era até melhor do que quando desceu do ônibus. Um pouco de alegria no meio da tragédia.

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