Cândido é bem magro e careca. De olhos quase sem cor e pele seca como a de um lagarto. Veio fugido de algum lugar quente e pequeno, com uns 300 reais numa mochila castigada, e um pouco de vontade de ser alguém com mais dinheiro.
Mas a cidade grande é bruta com quem vem de fora sem malícia, principalmente em cantos baratos cheios de bebida. Sete cachaças acabaram com as poucas idéias que Cândido tinha, depois que um esbarrão e umas letras cuspidas abriram-lhe o pescoço numa piscada. A faca de serra abriu a tampa pro sangue na garganta dele esfriar. Cândido tingia as paredes enquanto tropeçava pela frente do bar, pedindo ajuda à qualquer perna que passava. Elas agitavam-se horrorizadas, protegendo as calças do sangue derramado.
-SSSSSSS...sssssssss..!
Cândido viu o chão piscar em preto e vermelho e enfiou a cara na calçada. Encarou bem de perto os ladrilhos que lembravam a cidade. Se afogou num mapa cheio de sangue.
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